segunda-feira, 22 de agosto de 2011

#txt2

preciso de um cigarro. aceita? relaxa, não é contagioso, eu acho… isso, é uma entrevista né? você não deveria perguntar alguma coisa então? se é só isso que você quer, irei começar. isso começou a acontecer mais ou menos umas três semanas atrás. fazia a minha rotina como sempre fiz: acordo de manhã, fumo meu cigarro, trabalho, almoço, trabalho, fumo mais um pouco, volto pra casa, assisto tevê, fumo outro cigarro e durmo pra começar tudo de novo. nos fins de semana quase a mesma coisa só que sem trabalho e coloca aí uma cerveja ou duas com o pessoal do bar. tem algum fator de risco aí? nada que provavelmente mais da metade dos caras solteiros na minha idade que você conhece não faça. é meio chato, assistente técnico telefônico. mas não fiz curso técnico nenhum. só sigo um fluxograma e um computador fala o que eu vou falar para os clientes. nada de extraordinário mesmo. um macaco poderia fazer a mesma coisa e até com mais boa vontade. se bem que eu devo ter uma voz simpática, já que quem eu atendo me qualifica bem. a moça gosta da minha voz? desculpa. na tevê nada de mais. na maioria das vezes nem prestar atenção eu presto. acho que na maioria das vezes eu só ficava vendo as imagens ou nem isso. hã? não, não. nada de mais mesmo. poderia estar passando futebol ou novela. não fazia diferença. era só as imagens que eu via. chato não. acho que não achava nada mesmo. cinema não, nem “teatro”, nem boate ou seja lá como chamam hoje. desde quando namorei pela última vez acredito, faz uns dois ou três meses. evito contar o tempo, mesmo enquanto ele insiste em mostrar como passa. eu gostava dessa mulher, mas não tanto quanto ela gostava de mim, acho. então ela quis separar, por mim tudo bem. … certo, voltando ao porque disso. uns dias atrás. acho que só me dei por conta quando fui atravessar uma rua com semáforo e quase fui atropelado. o motorista e alguns pedestres gritaram comigo perguntando se eu era cego, e não tinha visto o sinal. quando cheguei no trabalho viram que eu estava meio aflito e pediram pra eu falar com um médico. o doutor estranhou muito, porque não tinha visto um caso assim, disse que essa doença é de nascença e não aparece depois de velho. olha, não sei se a cura existe e nem sei se faz diferença. absurdo nenhum. se isso foi só me afetar quando fui atravessar uma rua, dá próxima vez é só eu olhar para os lados que isso não acontece de novo. além do mais, se existir algum tratamento, certamente vai estar fora do meu orçamento. acho que só perdi algo que não me fazia muita falta. ah moça, não me acho único não. penso deve ter acontecido com mais gente que nem deve ter se dado conta. esse mundo só mostra as cores que tem pra quem para pra ver e pra quem quer ver. e quem não é um pouco assim hoje em dia? quem para pra olhar pra vida? … era só isso? não aceita um café? obrigado por ter vindo então. espero ter ajudado. boa noite.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Opinião possivelmente atrasada sobre o livro didático dos "erros"

Assisto meio desconfiado à última polêmica linguística nacional. Com a pluralidade que lhe é peculiar, a "grande" mídia vem metralhando o livro Por Uma Vida Melhor, distribuído a milhares de estudantes pelo MEC, por "ensinar o aluno a falar errado". Pela internet afora assisto também colegas e amigos concordando com o suposto escândalo.

Não vou entrar nos detalhes técnicos, porque tem gente mais adequada fazendo isso já. Mas eu, que sou um mero usuário da língua portuguesa, tenho minhas teorias a respeito da dita cuja, então gostaria de levantar algumas questãs. Se tudo correr bem, a galera aqui, de linguistas, adevogados e publicitários, acorda com a polêmica.

Primeiro, nas matérias que eu li a respeito, vi pouquíssimas citações do texto original. Não sei que interesses poderiam ter vários veículos pra criticar um livro didático todos ao mesmo tempo, imagino que seja só pra pegar uma carona irresponsável na polêmica. Mas metralhar o Bin Laden e sumir com o cadáver dessa maneira, acho meio esquisito. Felizmente a internet tá aí pra entregar tudo pra quem quiser, tipo o pdf do capítulo polêmico.

A seguir, quero fazer uma comparação com a recém-aprovada lei anti-estrangeirismo do deputado Raul Carrion e as reações a respeito. Naquele longínquo Abril houve muita piada na internet e uma certa neutralidade nas matérias (porque não dá pra fazer piada em matéria séria, né?). Pergunto: porque a mídia se esquiva e a galera se emociona pra defender o inglês e pra atacar o brasileirês junta quase todo mundo? "90% off" é mais certo do que "os guri"?

E então chegamos aos mamilos do texto: não sei se é um fenômeno só de Pelotas e região mas, que eu me lembre, ninguém usa todos os plural das palavra. Ignorar esse fato numa aula de português tem a mesma utilidade de ensinar a escrever os porquês ou usar as "clises": nenhuma. São regrinhas que já fazem hora extra na língua portuguesa.

Se eu entendi a intenção do livro (não, eu não abri o pdf), ele não ensina a falar errado, como diz a manchete ali, ele simplesmente ensina que existem várias maneiras de falar. E diga-se que nenhuma em lugar nenhum corresponde à língua escrita. Se eu entendi direito, ele ensina a pluralidade de raciocínio, muito mais útil que os plurais das palavras. E faltando um pouco no jornalismo.

Aliás, onde que eu errei ali em cima, em "assisto à polêmica" ou em "assisto colegas"?

domingo, 17 de abril de 2011

#txt1

alta noite já se ia. devem ser o que umas duas ou três da manhã. ao menos era desde a última vez que olhei pro relógio. é um dia de semana, o movimento é baixo, a luz de lâmpadas incandescentes é amena. pela movimentação da moça no balcão daqui uns vinte minutos vai começar a colocar as cadeiras de cabeça para baixo em cima das mesas. finjo que não percebo essa função e vislumbro o reflexo dourado, quase etéreo que o copo de whisky com gelo deixa na madeira polida do balcão. é o que? a quarta ou quinta dose dose e já viajo dessa maneira? não era assim uns dois ou três anos atrás. aliás, devo ser o último da velha turma que ainda faz isso. dou risada discreta sozinho… é engraçado pensar em como as coisas tomaram um rumo assim. embora não tenha porque me ver viajando nisso. ainda prefiro o reflexo hipnótico do copo de whisky, o cheiro meio-amargo do meu próprio cigarro, a voz nostálgica do sinatra, o som vagaroso da orquestra e o máximo do conforto que um banco de bar possa oferecer. não é depressivo como parece. é o paraíso irresponsável que tento prolongar até o limite, como se o sol jamais raiasse, como se o trabalho no escritório jamais existisse e como se o resto das obrigações enfadonhas do cotidiano não estivessem a espera com seus prazos sem prazeres. muda a música e volto para o reflexo do whisky, que por sinal aos poucos começa a ficar mais transparente. melhor tomar pra pedir mais. espero que a moça não negue. e ela não nega, mais uma dose, mais gelo e volta a fazer o que estava fazendo. eu até sei a letra dessa que toca agora. melhor acender outro cigarro. os goles estão ficando maiores, mas me sinto bem ainda, só meus olhos caíram um pouco. pelo visto a moça começou a fazer o caixa. duvido que ela venha puxar assunto dessa vez, nunca fez isso antes, não teria porque agora. em um outro lugar as pessoas que devem vir a interagir no dia seguinte fazem o certo em deixar as suas cabeças nos travesseiros. queria ter essa tranquilidade, queria ser assim, queria essa vida. mas é impossível, ao menos pra mim, pensar em dormir sem tirar ao menos uma hora ou duas do dia pro meu lado egoísta. seja pro cigarro ou pro álcool, seja pra familia, seja pro cachorro seja por que quer que seja, que me faça sentir indivíduo. mudou a música novamente, divaguei de mais, é só o reflexo dourado do copo de whisky em cima do balcão…

sexta-feira, 1 de abril de 2011

A Ditadura brasileira ainda viva – a cidadania torturada

Alexandre Haubrich, jornalista, editor do blog Jornalismo B (http://twitter.com/jornalismob / http://twitter.com/alexhaubrich)


Aos quatro anos de idade, Edson Teles entrou em um prédio na Rua Tutóia, no bairro do Paraíso, em São Paulo para encontrar os pais, que não via há alguns dias. Simpáticos nomes o da rua e o do bairro. Edson ouviu a voz da mãe chamando seu nome, mas, quando se virou, não reconheceu o rosto e o corpo que portavam aquela voz. Em seguida, encontrou o pai, em outra sala, sentado em uma cadeira aparentemente normal para uma criança. Mas havia cintas de couro nos braços da cadeira. Era 1972, e Edson visitava os pais no DOI-CODI, centro da repressão da Ditadura Militar brasileira. “Meu filho perguntou 'por que o pai é verde?' e minha filha perguntou por que eu estava azul”, contou anos atrás a mãe de Edson, Maria Amélia de Almeida Teles.

Na última semana, em um seminário em Porto Alegre, Edson desabafou: “me envergonho de ser brasileiro. Oferecemos o Brasil para ser paraíso dos torturadores. Se torturarem em nome do Estado, aqui são anistiados”. E Edson e sua irmã Janaína não são um caso raro. Muitas crianças viram seus pais serem torturados pelo Estado brasileiro que, entre 1964 e 1985, impôs a seus cidadãos o fim da cidadania e de qualquer possibilidade de dignidade. Socos e pontapés eram carinhos. A violência vinha através de choques elétricos por todo o corpo, afogamentos, fuzilamentos simulados. Homens e mulheres, muitas vezes nus, eram pendurados em paus-de-arara, humilhados de todas as formas, reduzidos a nada. E se Edson e Janaína não são um caso raro, e tampouco a tortura a que foram submetidos seus pais foi um caso raro, também não foi a tortura a única forma pela qual cidadãos brasileiros foram agredidos por seu próprio Estado.

Assassinatos e sequestros também eram comuns. Sim, hoje ainda são. Mas, naqueles anos, quem cometia esses crimes era o Estado, e os cometia como Estado, não apenas através de indivíduos que corrompiam as instituições. O Estado e seus agentes eram os criminosos, os assassinos, sequestradores, torturadores. Brasil nunca mais. Muitos cidadãos brasileiros foram obrigados a fugir do país. Deixaram para trás seu lugar e seus familiares, amigos, colegas. Deixaram para trás toda uma vida para começarem a construir outra longe daqui.

O silêncio, para os militares e civis que referendaram o Golpe de 1964, era a causa pela qual lutavam. Gritos? Permitidos apenas nas salas de tortura, e apenas gritos de dor. Parte significativa da imprensa apoiou a Ditadura de seu início até as portas de seu fim, quando percebeu que, ou abandonava o moribundo, ou morreria junto. A outra parte da imprensa, porém, a parte séria, viu muitos de seus representantes torturados, desaparecidos ou acuados. O fetiche do silêncio.

Derrubada a democracia que se aprofundava no governo João Goulart, os golpistas não queriam mais saber de política, apenas de poder. Um professor falando sobre política em aula poderia ser denunciado por um aluno como terrorista. A mesma coisa em conversas de bar ou de qualquer lugar. O risco de tortura, assassinato ou “desaparecimento” sempre iminente. Se antes a política já era afastada do povo, em 64 o Estado tirou do povo o direito de se aproximar da política.

Com a chamada “abertura democrática” da década de 1980, não acabou-se verdadeiramente com a Ditadura. Até hoje suas sobras contaminam a vida dos brasileiros. A herança da Idade das Trevas tupiniquim está no autoritarismo e na violência policial, na despolitização popular, na agressividade da direita, na ignorância, no conservadorismo moral preconceituoso, racista, machista e homofóbico. Esses resquícios sobrevivem também no imaginário demente de alguns políticos e alguns militares que anseiam pela reinstitucionalização de todos esses absurdos.

Continuam dominando importantes setores do país as pessoas que financiaram e apoiaram de diversas formas a Ditadura Militar. Grandes empresários, destacados políticos, graduados militares. Os donos da comunicação brasileira também entram nesse bolo. É por tudo isso que, enquanto nossos países vizinhos agem para limpar a sujeira deixada por suas respectivas ditaduras – sem varrer essa sujeira para baixo do tapete –, aqui o silêncio segue imposto.

É para punir os responsáveis pelo massacre da cidadania brasileira que é necessário revisar a Lei da Anistia, assinada em 1979, que, ao mesmo tempo em que beneficiou quem lutava por um Estado democrático, absolveu automaticamente as pessoas que, em nome do Estado brasileiro, cometeram todos os tipos de crime. A tortura e o assassinato em nome do Estado foram permitidos, o que configura uma arbitrariedade e um desrespeito aos brasileiros representados por esse Estado. Os cidadãos que lutaram contra a Ditadura Militar já foram fortemente punidos das mais diversas formas ainda durante aquele período. Os representantes dessa Ditadura, não. Além disso, a Lei da Anistia foi aprovada pelos opositores ao regime com uma arma na cabeça. Da mesma forma que obtinham confissões através da tortura, os governantes de então impuseram sua própria imunidade como condição para deixarem o povo brasileiro ser re-empoderado minimamente.

A abertura imediata de todos os arquivos da Ditadura Militar e a ampla divulgação de seu conteúdo, assim como o trabalho de resgate histórico do que vivemos, é outra obrigação do Estado brasileiro. Os cidadãos têm o direito de conhecer sua própria história, a história de seu país. Se o Estado é uma instituição da sociedade, e esta é formada pelo conjunto dos indivíduos, o Estado somos nós, e nós temos o direito de conhecer a verdade e o dever de lutar por esse direito. Para que não corramos o risco de retornar àquela situação de terror precisamos saber detalhadamente o que nos levou a ela o que a manteve por tanto tempo. Só assim, com a punição dos gerentes da nossa Idade das Trevas e com o direito à verdade, poderemos realmente encarar de frente as heranças daquele tempo que ainda nos assombram.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Dennis Carvalho



Da Wikipedia: "Foi casado com a atriz Bete Mendes, a psicóloga Maria Tereza Schimdt e as atrizes Christiane Torloni, Monique Alves, Ângela Figueiredo e Tássia Camargo. É pai de Leonardo Carvalho, ator de 30 anos, seu filho com Christiane, Tainá, 22, filha de Monique, e Luíza, 11, fruto da união com Deborah Evelyn, que pôs fim à longa lista de separações de Dênis."

Não é a toa que o maluco tem dois trocadilhos no nome.

terça-feira, 15 de março de 2011

Reforma Nominal Partidária

Nas últimas semanas começou um burburinho a respeito do equivalente brasileiro do Chinese Democracy, a reforma política. Uma comissão na Câmara dos Deputados e outra no Senado discutem propostas de mudanças que coloquem um pouco de ordem na democracia brasileira. E a comissão da câmara já começou bem, com a desistência da representante da gloriosa Famiglia Roriz, filmada em atos moralmente reprováveis.

Existem algumas propostas saudáveis como o financiamento público de campanha, que reduziria a troca de favores entre políticos em campanha e empresas com interesse em licitações futuras, e o voto em lista, que evidencia o partido, ou seja, as idéias que o candidato defende, e evita a imbecilidade do eleitor que vota em um nome sem saber o que ele vai fazer lá.

Mas tem um detalhe no qual ninguém pensou e que, se fosse reformado, ajudaria bastante o eleitor a saber o que o seu candidato pensa da vida: os nomes dos partidos. Os partidos mais importantes foram fundados há décadas e os nomes continuam os mesmos, remetendo a idéias que os membros nem lembram mais do que tratam.

As únicas excessões são os herdeiros da Arena, que praticam sucessivas plásticas em si mesmos pra ver se passam despercebidos. Os true-arenistas hoje em dia se reunem no PP, Partido Progressista. Já os que pularam fora do barco da ditadura no último segundo hoje se denominam, pra mostrar que política também pode ser feita com bom humor, Democratas.

O PP passou os últimos oito anos na base de apoio do governo Lula, o que envolveu grandes concessões de ambos os lados - especialmente, de cargos e dinheiro. Mas nós sabemos que, no fundo, eles gostariam de poder ser em público o que sempre foram. Portanto, o melhor a se fazer seria juntar os dois partidos em um novo, chamado PDB - Partido da Direita Brasileira. Isso resolveria ainda outro problema político nacional, a vergonha de se declarar de direita, expressa até pelo legítimo representante deste campo nas últimas eleições.

Do outro lado, o PMDB evoca no nome o Movimento Democrático Brasileiro, partido que fazia oposição à ditadura. À ditadura. Que acabou em 1985. Não é a toa que a grande referência ética do partido se recusa a aceitar a troca de nome até hoje e exibe uma ética meio estranha. Para adequar o partido aos novos tempos seria melhor para o eleitor que ele se chamasse PC - Partido dos Cargos, refletindo sua vocação governista - seja em que governo for. Aliás, analisando o nome "Movimento Democrático Brasileiro", ele até que é bem condizente com o PMDB atual, cujos "ideais" se movimentam de acordo com a democracia brasileira.

Mas mantendo a idéia do novo PC, fico em dúvida se ele não deveria se fundir com PTB e PDT. Enquanto o segundo foi fundado na redemocratização por Leonel Brizola pra "dar continuação" ao PTB de Getúlio Vargas, o primeiro foi fundado com o intuito de sacanear o Brizola, que teve que usar outra sigla. Enquanto o segundo não chegou a respirar perto do trabalhismo, o primeiro foi se inclinando pra direita aos poucos e hoje em dia tem entre suas estrelas Paulinho da Força, condenado por improbidade administrativa.

Para o mesmo caminho vai o PSB. Se por um lado é verdade que algum dos seus membros ainda deve saber o que é o socialismo defendido pelo partido, por outro o partido entrou de cabeça no troca-troca e tem ou já teve grandes líderes socialistas como Paulo Skaf, Ciro Gomes e Anthony Garotinho. Se estancasse o processo agora, o partido poderia trocar de nome para Partido de Esquerda Moderada, ou algo que o valha.

Já o PCdoB, por sua recém descoberta vocação para o esporte, poderia se chamar Partido Bandeirantes. Quer dizer, caso alguém ainda lembre de quando a Band era o saudoso Canal do Esporte. Se bem que, pelo que foi visto nos Jogos Pan-Americanos do Rio, o talento do partido pro lucro é maior. PESPN talvez teria um bom apelo com a juventude, outra área que o PCdoB domina como ninguém.

O PV é um dos casos mais curiosos, já que o partido tem um premissa bastante específica, a preservação do meio ambiente, mas os seus amigos não têm exatamente o mesmo ponto de vista. Caso a reforma eliminasse a doação privada para campanhas e os seus filiados fizessem uma força, o partido até poderia continuar com o mesmo nome. Caso contrário, poderia se fundir ao futuro PC com os outros partidos cuja ideologia ninguém sabe.

Sobre PSOL, PSTU e PCB, cabe uma pergunta: precisa três partidos? Tem mais diferença entre o PSOL e o PCB do que entre duas correntes do PSOL? De qualquer forma, o Partido Socialismo e Liberdade ganha um prêmio por coerência, já que os seus candidatos têm liberdade até de sabotar as campanhas uns dos outros. Minha sugestão é unir os três no PEB - Partido da Esquerda Brasileira, rival natural do PDB.

O caso do PPS é meio constragedor. "Partido Popular Socialista" soa como aqueles partidos únicos da União Soviética. Mas em pouco mais de 10 anos, o que era um desmembramento do PCB conseguiu se transformar em um sub-PSDB. Duvido que algum político tentando desenvolver um argumento coerente consiga dizer o nome completo desse partido sem rir. Caso tenha alguma necessidade de continuar existindo em separado, poderia se chamar Partido Popular Neoliberal, ou Impopular Neoliberal, sei lá.

Porque o neoliberal popular, todo mundo sabe, é mesmo o PSDB. Fundado em 88, não precisou nem 10 anos pra galera esquecer que o SD no meio vinha de Social Democracia. Por motivos óbvios, o nome que expressaria coerência para o eleitorado devia ser PNB - Partido do Neoliberalismo Brasileiro.

Por último, o que fazer com o partido que manda no país há 8 anos? O Partido dos Trabalhadores aguentou firme por mais ou menos (dependendo do ponto de vista) 20 anos fazendo jus ao nome. Aí o Lula encheu o saco de perder eleição e decidiu que patrão também era trabalhador, então o PT devia agradar a eles também. Mas claro, não dá pra agradar todo mundo o tempo todo e não precisa fazer muita força pra imaginar qual dos dois grupos geralmente leva a melhor. Nessa reforma nominal o PT viraria PTP - Partidos dos Trabalhadores e Patrões. Ou carregando na sinceridade, PPOQSPT, Partido dos Patrões e O Que Sobrar Pros Trabalhadores.

Ainda tem o PR, o PMN e mais uns 10 partidos pra renomear. Mas desses menores, alguns tem a ideologia mais definida, outros ninguém se importa, então eles podem ficar do jeito que tão. Nesse novo cenário de sinceridade partidária, eles finalmente vão ter a chance de mostrar a que vieram. E nos grandes, os filiados vão poder viver tranquilos sabendo que optaram por aquilo que diz na fachada do comitê ou no santinho, e que o eleitor entende o que eles pretendem fazer. Quer dizer, se é que a idéia era essa.




UPDATE: a piada sobre o MDB foi adicionada posteriormente pelo Titanic (o Nic Hck ali do lado).

quarta-feira, 9 de março de 2011

No Carnaval da Globo

Hoje é a quarta feira de cinzas. Quanto a mim, particularmente, estou seguindo a tradição do meu carnaval que é me divertir durante ele e me sentir realmente mal, por um motivo ou por outro, no final. Mas eu vou falar aqui de um lado mais conhecido de todos nós do carnaval, que é aquele vicariously vivido através da telinha da Globo: o carnaval das escolas de samba do Rio de Janeiro.

A opinião que eu vou expor aqui é provavelmente um pouco batida e pode parecer que eu estou falando o óbvio, porque estou mesmo, mas mesmo assim achei que podia valer a pena colocar a público algumas coisas. A exemplo da moça que virou hit na internet falando coisas pejorativas - mas um pouco incoerentes entre si - sobre o carnaval, quando vê eu também tenho os meus quinze minutos de fama.


A frase que eu achei icônica pra representar o espírito do carnaval do Rio foi proferida pela moça comentarista do carnaval na própria Rede Globo. Sem a menor intenção de ironia ela chamou atenção para o fato de que a dispersão é quando o pessoal aproveita para se divertir. Noutro momento, uma repórter elogiou uma determinada escola de samba exaltando a sua competência.

Os foliões aproveitam o momento da dispersão para se divertir. Claro, porque o resto do tempo eles estão participando de uma competição com regras rígidas, onde precisam demonstrar competência para cumprir um determinado papel. Esse é um carnaval onde ninguém pode sair da linha por um momento. Agora me expliquem de novo o que é carnaval, por que eu achava que era exatamente o oposto disso.

Não bastasse isso pra fazer do carnaval do Rio a coisa mais aborrecida do mundo, ainda existem os sambas enredo, que também têm as suas condições e pressupostos: Quanto à forma, o samba enredo é formado unicamente por frases invertidas para rimar com o verbo no final. A letra faz menções aleatórias a elementos do tema, sem nenhum nexo entre si. Por isso, segundo eu ouvi dizer, é chamado de samba enredo.

Quanto ao conteúdo, o tema de um samba enredo tem que ser, necessariamente, escolhido entre os conteúdos de algum livro de ciências, geografia ou história do ensino fundamental. Sendo assim, o samba pode ser sobre os povos indígenas brasileiros, sobre doenças causadas por protozoários ou, como foi o caso de uma escola que eu vi esse ano, sobre as teorias de Charles Darwin.

Não consigo pensar em um tema mais chato para um samba do que uma narrativa didática sobre a evolução das espécies. Até se pudesse haver humor, como é a tradição do samba, poderia ser bom, mas não: é absolutamente proibida qualquer ironia, qualquer trocadilho, qualquer malandragem. A palavra de ordem é exaltação de alguma coisa, e só. Queria ver o que pensaria hoje Noel Rosa, o malandro de Vila Isabel.


Quanto às fantasias e carros alegóricos, seja qual for o tema, a melhor forma de colocar em prática é retratá-lo de uma perspectiva histórica. Sendo assim, se o tema é X vamos ter X entre os egípcios, e aí são múmias, faraós, pirâmides, X entre os gregos, X medieval com castelo. Ou então animais, plantas, carro-tigre que abre a boca. Seja X o que for, no final vai dar na mesma coisa.

Não sei muito bem como terminar esse texto aqui. Só queria dizer ainda que não concordo com a crítica da moça do youtube à “festa em que tudo é permitido”. Lembrem de todos os sambas que falam sobre o valor desse momento breve de redenção para um povo que se fode tanto o ano inteiro. No carnaval, deixa a gente se divertir, e deixa os bêbados merecerem uma ambulância.

quinta-feira, 3 de março de 2011

Trocando de pau pra pedra...

Estudando no curso de Jornalismo da UCPEL, eu faço alguns textos em aula dos quais eu não tenho vergonha. Como a proposta desse blog é ter de tudo, acho que vale colar uns aqui. Começa com esse resuminho das revoltas em países árabes que tão rolando esse ano, cujo título original era...

Novidades e revoluções árabes



Nesse começo de década, o mundo árabe, geralmente excluído do noticiário ocidental, voltou às manchetes das mídias tradicionais por força do seu povo e com a ajuda das novas mídias. Durante anos os governos destes países passaram quase despercebidos, pois não ofereciam uma ameaça à "estabilidade" do cenário internacional. Mas a frustração acumulada por anos de autoritarismo e corrupção mudou a história.

As revoltas começaram em Dezembro do ano passado na Tunísia, onde Mohamed Bouazizi, um vendedor ambulante, ateou fogo ao próprio corpo para protestar contra abusos policiais cometidos contra ele. A morte do vendedor levou a protestos que se espalharam pelo país e, em menos de um mês, derrubaram o governo de 23 anos do presidente Zine El Abidine Ben Ali.

O primeiro-ministro Mohamed Ghannouchi, aliado de Ben Ali, assumiu o controle do país e tentou formar um governo de transição com membros do governo e da oposição, mas os protestos continuaram, demandando o desmonte total do governo e do partido do ex-presidente. Tanto Ghannouchi quanto diversos ministros indicados por ele já renunciaram e a situação continua indefinida.

Em seguida, o foco do noticiário se moveu para o Egito, onde Hosni Mubarak governava por 30 anos. Começando no dia 25 de Janeiro, foram realizadas sucessivas manifestações por reformas políticas. Muitas das demandas foram atendidas, mas confrontos com apoiadores do presidente aumentaram a violência e o descontentamento da população levou milhões para as ruas.


















Mubarak renunciou em 11 de Fevereiro e entregou o poder ao Conselho Supremo das Forças Armadas. O Conselho dissolveu o parlamento e anunciou a realização de eleições em Setembro, mas, como na Tunísia, os manifestantes continuam pedindo o fim imediato do governo, que ainda mantém pessoas ligadas a Mubarak.

Nos dois países, a Internet teve um papel sem precedentes na organização de movimentos políticos populares. Protestos foram organizados por grupos no Facebook, como o egípcio We Are All Khaled Said, criado em homenagem a um jovem que foi espancado e morto pela polícia em Junho de 2010. Em resposta, o governo egípcio, ainda com Mubarak, bloqueou Twitter e Facebook por vários dias no país inteiro.

Na Tunísia, algumas fontes afirmam que a maioria das manifestações foi organizada pelo Facebook. Vídeos da repressão policial foram publicados pelos manifestantes no Youtube e chamaram atenção do exterior, o que levou ao bloqueio de sites de vídeo. Após a queda de Ben Ali, o governo interino nomeou o blogueiro Slim Amamou como ministro da Juventude e do Esporte.

























O principal foco atual de tensões é a Líbia, do ditador Muammar Kaddafi. Excêntrico e pretensamente nacionalista, Kaddafi é o único dos governantes citados que já foi visto como vilão pelo mundo ocidental, inclusive com participação em atentados terroristas. Nos últimos anos ele vinha se reconciliando com os poderes ocidentais, assinando tratados de cooperação e abrindo o país para empresas multinacionais.

A revolta começou em 15 de Fevereiro com um pequeno protesto na cidade de Benghazi. A reação do governo desde o princípio tem sido bastante violenta e a oposição tenta tomar o poder no país aos poucos. No último dia 27 foi anunciada a formação de um Conselho Nacional para administrar as diversas cidades que não estão mais sob controle de Kaddafi.

Diversos outros países da região passam por turbulências, como Bahrein - que já teve o GP de Fórmula 1 da próxima temporada cancelado -, Iêmen, Jordânia e Irã. Introduzindo o uso da Internet em revoluções democráticas e tendo, ao mesmo tempo, diversas tribos, grupos religiosos e herdeiros de regimes ditatoriais disputando o poder, o mundo árabe agora balança entre ser a vanguarda do mundo ou cair novamente no conservadorismo.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Grito Rock - Segundo dia


O ideal seria postar uma review do festival inteiro, mas, como eu só compareci no segundo dia (e saí antes das últimas bandas tocarem) e o pessoal que compareceu nos dois está contundido, aqui vai uma review parcial, com a minha visão também parcial dos fatos. A ver

Não sei se por emoção ou bebedeira, o Gordo (Alex Vaz, vocal e guitarra da Canastra Suja) resolveu se abraçar em mim e fazer um desabafo sobre tudo o que o festival Grito Rock significava para ele, a oportunidade dos músicos mostrarem o seu trabalho, pra que quem faz música com paixão possa fazer disso também o seu sustento. Me falou também do quanto ele e todo o mundo envolvido tinham suado para que aquilo tomasse forma. Sobre o evento, essa é a melhor definição que eu posso dar.

Eu estava de saída, para comer alguma coisa e voltar para casa, mas o Gordo insistiu pra que eu ouvisse pelo menos uma música da banda que ia começar, então fiquei mais um pouco. Seis horas antes, eu estava estacionando o carro no quadrado para ver qual é que era do tal Grito Rock, apesar de já ter perdido o primeiro dia do festival. Vou tentar passar aqui as minhas impressões:

A primeira banda cujo nome estava no cartaz foi a Plug 3 que, como bem lembrado pela Alice (famosa irmã do Porco) é autora do hit “Sou Yeda de Novo”, que arrecadou para a candidata tucana a intenção de voto de milhares de pessoas sem idade legal para votar. Começou a primeira música, que dizia algo como “essa canção vai tocar seu coração” e daí vocês podem imaginar que eles tocaram meu coração por um período que parecia que não ia terminar nunca.

Mas essa banda eu assisti por um erro de cálculo, posto que a minha intenção era chegar na hora do show dos Mascates, que eu já tinha visto uma vez, no João Gilberto, e que tinha gostado. Os caras são uma gurizada nova mostrando que nem toda essa geração está perdida. A banda faz uma mistura de influências boas: em um momento é puro Strokes, em outro é um instrumental de Arctic Monkeys com vocal de Los Hermanos, e no meio disso faz referências fortes de música popular brasileira.


A coisa mais comum é acusar bandas novas de serem cópias de Los Hermanos, afinal de contas, os barbudos inauguraram o rock moderno misturado com música popular no Brasil, e então qualquer banda que continua nessa linha é chamada de cópia. Eu acho isso um erro. O som dos Mascates é uma mistura do que os caras escutam, mas e quando é que não é? Como diz o vocal Pedro Laguna numa das músicas deles: “Não descarto a influência. Não disfarço quem eu sou”.

Mas em matéria de originalidade acho que quem mais chamou a atenção foi a banda seguinte: os Meigos, Vulgos e Malvados. Eles misturam influências e estilos de uma forma que fica difícil definir o que eles estão fazendo, e eu não digo isso num mau sentido. O discurso da vocalista, contra os padrões de beleza impostos pela sociedade, perdeu efetividade pelo fato dela própria ser uma gordinha, mas isso na verdade serve para mostrar que o que ela diz tem razão.

“Gabi vai tocar” - ouviu-se a frase conhecida no Quadrado, e logo estava no palco a Gru, banda da Gabi Lima, que tem um talento para fazer músicas extremamente pop que, ainda assim, não dão vontade de vomitar (o que é um grande mérito). Segundo alguém me disse, o guitarrista do power trio era vocal da Superguidis. Uma coisa que se destaca também são as pequenas falas da Gabi durante o show, cativantes. Acho que a convivência com a Fernanda Takai aumenta o nível de açúcar no sangue de uma pessoa.

Eis que chega o momento mais esperado do dia: uma das esparsas reuniões do grupo clássico do rock clássico pelotense, a Psico Say Canniggia. Sem dúvida foi a apresentação com maior público do dia. Surgiu gente não sei de onde para assistir. Os caras realmente são muito bons, e todo o mundo sabe.


Mas logo no início do show se viu que a Psico não estava no seu dia. O baterista da banda, que sempre deu show não só com o som, mas com toda uma performance corporal e facial que era ótima de ficar olhando, tinha se passado na bebida e não estava no seu melhor. A guitarra do Bocão desconectava e ele continuava tocando, sem perceber. Eu nem diria isso por mim mesmo, porque não sou bom em avaliar essas coisas, mas a opinião geral que ouvi foi que a Psico fez fiasco. Os caras, é claro, souberam levar tudo isso numa boa.

Numa noite dessas, sentado em algum meio-fio da zona do Porto, o Bocão brincou que andava tentando fazer um som moderno, escutando Radiohead, mas o pessoal ouvia e dizia que lembrava Led. O Grito Rock passou uma impressão de decaída do velho e ascensão do novo. Tá certo que os Strokes eram novidade há dez anos, e os Arctic Monkeys há cinco, mas se o pessoal da nova geração continuar aprendendo a transformar o que escuta em algo novo, acho que o nosso rock local pode ter um futuro massa.

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

E Eu Que Não Queria

Arnaldo e Rafaela estavam na frente do palco, assistindo empolgados a melhor banda do festival, quando o guri teve a iluminação.

- Tô me mijando.
- É, acho que eu também quero ir no banheiro.
- Quando der uma música chata a gente vai.
- Tá bom.

A música que a banda tocava acabou e o vocalista se parou a discursar aqueles discursos de banda agradecendo pela oportunidade, pela paciência do público, etc. Arnaldo, cada vez mais aflito, resolveu exercer o pensamento positivo.

- Bem que ele podia dizer em que ponto tá o show.
- Como assim?
- Tipo, quanto falta pra acabar e tal.
- E porque diabos ele faria isso?
- Sei lá, quando tá no fim geralmente eles dizem "essa é a última, galera" ou coisa que o valha.

Não deu meio minuto e o vocalista anunciou que faltavam duas músicas. Aquele era o momento. Tudo bem que era a melhor banda, mas a penúltima música provavelmente ia ser só uma preparação pro final em grande estilo. A bexiga não podia esperar.

- Vamo agora, aí a gente volta pra ver a última.
- Mm... tá, então.

Rafaela saiu correndo na frente, seguida tão de perto quanto possível por Arnaldo. Desviaram das pessoas, das garrafas, contornaram a mesa de som, pularam os desníveis do chão de terra. Já tinham percorrido metade dos 100 metros que separavam o palco do banheiro quando o vocalista terminou o discurso e Rafaela teve a segunda iluminação da noite:

- Certo que, só porque a gente saiu, agora vai tocar uma...

E não precisou completar. O receio era mútuo e Murphy não falha. Começou a música mais animada do show. Os dois pararam e se olharam.

- Vamo esperar ma...
- Na próxima a gente...

E correram de volta.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Intro ou Postergada Iniciativa Iniciada.

As vezes algumas introduções são desnecessárias, outras indispensáveis. De modo que ao termos idéia de que/quem estamos lidando com certo aviso prévio, nos faz criar certa expectativa. Mas o quanto é saudável esperar? Não sei responder a isso. E espero nunca saber. Talvez conforme as pessoas pensam em como as outras possam nos enxergar por saber seu nome, com quem você anda e o que você faz, dispensam a necessidade de apresentação. Não sou uma excessão à regra conforme citei, e com essa aparentemente intrincada e defensiva introdução:

Eis que em um sábado como outro qualquer, abro a janela que saltou no meu MSN intitulada: "Robert Snows", me convidando para colaborar em um blog. Tudo o que perguntei: "é tema livre?". Tive uma resposta positiva, e me pus a pensar com o que eu poderia colaborar, já que tantas possibilidades geram indecisão (momento Karen Radünz).


Durante a mesma semana (ainda não postando) vi um post novo de Roberto, e ao observar a área administrativa do blog, me deparo com os dizeres José Antônio Magalhães. Ao ver o nome do Tom envolvido nesse projeto, percebi que talvez fosse ser algo sério de mais pra alguém como eu fazer parte... até que lembrei que era o nome do Tom.

Com nomes que considero irreverentes e de forte opinião fazendo-me tal convite, me senti honrado em fazer parte desse projeto afinado apesar da minha desafinação no que se refere a organização, prometi fazer o suficiente para tentar satisfazer as especativas em mim geradas. Assim coloco a minha nerdice à vossa disposição, contribuindo no que puder. Sem mais delongas, peço para que por favor nos acompanhem nessa sinfonia afinada em q.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Pequena história colateral dos novos tempos



Saindo do Rio de Janeiro, a primeira vinda foi cortesia da Amigo Produções. O clipe veio na mesma leva de sucessos como o Monstro DJ e Bicicleta Humana. Mas os Avassaladores e a sua Sou Foda claramente tinham algo a mais. Algo que transformaria a canção em um fenômeno da internet e em um sinal dos novos tempos para os direitos autorais.

A auto-confiança está estampada na cara do moleque que, sobre um fundo animado psicodélico, morde os beiços antes de citar de cabeça todas as pessoas que ele é melhor e todos os lugares onde ele esculacha a mulher amada. Enquanto isso os seus companheiros, mais pra trás, fazem uma dança aparentemente infazível pra quem não nasceu no RJ. Eu, pelo menos, não conheço ninguém que saiba.

Nesses tempos em que ninguém sabe mais diferenciar o que é consumo irônico e o que é consumo, não deu pra ficar indiferente. O vídeo e o pancadão que ele ilustra fizeram a peregrinação, por blogs e redes sociais, comum aos hits do Youtube. A cena do beiço ganhou até um gif próprio. Enquanto isso, os Avassaladores faziam uma versão "clean" de Sou Foda pra tocar no rádio ou na TV.













Mas o moralismo tem mais força nas mídias de velho tradicionais e os Avassaladores ainda não são o MC Serginho. A trajetória da "profana" versão original, vinda do mundo moralismo-free do funk carioca, tinha mesmo que passar pelo mundo moralismo-free da internet pra ganhar ainda outros mundos.

Outros dois moleques, Cacio e Marcos, adicionaram um violão, uma melodia e fizeram uma versão sertaneja, totalmente de brinks, como mostra o vídeo gravado no quarto (não no beco, nem no carro) com a participação "do forever alone", como eu li em algum lugar por aí.



Pois essa transfusão de bagaceiragem fez aparecer um submundo sertanejo moralismo-free. Ou isso ou no meio rural (supondo-se que é do sertão que saem as duplas sertanejas) "foda" deixou de ser palavrão (até porque, convenhamos...), porque a versão Cacio e Marcos foi apropriada e profissionalizada por pelo menos mais duas duplas.

E quem não podia ficar pra trás na arte da apropriação eram justamente os habitantes da internet: os nerds. Vejam a plaquinha que eu presenciei num evento otaku recente:






















Detalhe na Saori Kido aqui embaixo. A foto é obra desse cidadão aqui.

E a última encarnação de Sou Foda que bombou (que eu saiba), mashup com a abertura de Sakura Card Captors:



Mas ainda existem várias versões rolando por aí, e o Não Salvo fez uma compilação parcial: Overdose de Sou Foda. Tudo isso, até onde eu sei, só com a internet e, subversão máxima, sem participação do ECAD. Até que venha um representante do ECAD aqui dizer o contrário.

E deve acontecer, visto que os sertanejos com certeza tão ganhando dinheiro com isso. Menos os que começaram a brincadeira, que continuam tocando no quarto.

Por fim, o sucesso de Sou Foda deve ter sido parelho no mundo do funk, porque ela ganhou uma paródia dos medalhões Gorila & Preto.