quinta-feira, 3 de março de 2011

Trocando de pau pra pedra...

Estudando no curso de Jornalismo da UCPEL, eu faço alguns textos em aula dos quais eu não tenho vergonha. Como a proposta desse blog é ter de tudo, acho que vale colar uns aqui. Começa com esse resuminho das revoltas em países árabes que tão rolando esse ano, cujo título original era...

Novidades e revoluções árabes



Nesse começo de década, o mundo árabe, geralmente excluído do noticiário ocidental, voltou às manchetes das mídias tradicionais por força do seu povo e com a ajuda das novas mídias. Durante anos os governos destes países passaram quase despercebidos, pois não ofereciam uma ameaça à "estabilidade" do cenário internacional. Mas a frustração acumulada por anos de autoritarismo e corrupção mudou a história.

As revoltas começaram em Dezembro do ano passado na Tunísia, onde Mohamed Bouazizi, um vendedor ambulante, ateou fogo ao próprio corpo para protestar contra abusos policiais cometidos contra ele. A morte do vendedor levou a protestos que se espalharam pelo país e, em menos de um mês, derrubaram o governo de 23 anos do presidente Zine El Abidine Ben Ali.

O primeiro-ministro Mohamed Ghannouchi, aliado de Ben Ali, assumiu o controle do país e tentou formar um governo de transição com membros do governo e da oposição, mas os protestos continuaram, demandando o desmonte total do governo e do partido do ex-presidente. Tanto Ghannouchi quanto diversos ministros indicados por ele já renunciaram e a situação continua indefinida.

Em seguida, o foco do noticiário se moveu para o Egito, onde Hosni Mubarak governava por 30 anos. Começando no dia 25 de Janeiro, foram realizadas sucessivas manifestações por reformas políticas. Muitas das demandas foram atendidas, mas confrontos com apoiadores do presidente aumentaram a violência e o descontentamento da população levou milhões para as ruas.


















Mubarak renunciou em 11 de Fevereiro e entregou o poder ao Conselho Supremo das Forças Armadas. O Conselho dissolveu o parlamento e anunciou a realização de eleições em Setembro, mas, como na Tunísia, os manifestantes continuam pedindo o fim imediato do governo, que ainda mantém pessoas ligadas a Mubarak.

Nos dois países, a Internet teve um papel sem precedentes na organização de movimentos políticos populares. Protestos foram organizados por grupos no Facebook, como o egípcio We Are All Khaled Said, criado em homenagem a um jovem que foi espancado e morto pela polícia em Junho de 2010. Em resposta, o governo egípcio, ainda com Mubarak, bloqueou Twitter e Facebook por vários dias no país inteiro.

Na Tunísia, algumas fontes afirmam que a maioria das manifestações foi organizada pelo Facebook. Vídeos da repressão policial foram publicados pelos manifestantes no Youtube e chamaram atenção do exterior, o que levou ao bloqueio de sites de vídeo. Após a queda de Ben Ali, o governo interino nomeou o blogueiro Slim Amamou como ministro da Juventude e do Esporte.

























O principal foco atual de tensões é a Líbia, do ditador Muammar Kaddafi. Excêntrico e pretensamente nacionalista, Kaddafi é o único dos governantes citados que já foi visto como vilão pelo mundo ocidental, inclusive com participação em atentados terroristas. Nos últimos anos ele vinha se reconciliando com os poderes ocidentais, assinando tratados de cooperação e abrindo o país para empresas multinacionais.

A revolta começou em 15 de Fevereiro com um pequeno protesto na cidade de Benghazi. A reação do governo desde o princípio tem sido bastante violenta e a oposição tenta tomar o poder no país aos poucos. No último dia 27 foi anunciada a formação de um Conselho Nacional para administrar as diversas cidades que não estão mais sob controle de Kaddafi.

Diversos outros países da região passam por turbulências, como Bahrein - que já teve o GP de Fórmula 1 da próxima temporada cancelado -, Iêmen, Jordânia e Irã. Introduzindo o uso da Internet em revoluções democráticas e tendo, ao mesmo tempo, diversas tribos, grupos religiosos e herdeiros de regimes ditatoriais disputando o poder, o mundo árabe agora balança entre ser a vanguarda do mundo ou cair novamente no conservadorismo.

2 comentários:

O Mendigo Canibal disse...

Então, gostei do texto, mas tenho algumas ressalvas a fazer. (tentarei ser breve)

Em primeiro lugar, não se deve generalizar a questão do oriente médio como se tudo fosse a mesma coisa. Apesar dos países serem majoritariamente árabes, "cada um é cada um". É evidente que existe um fator coletivo nas revoltas, mas isso é mais um efeito do que uma causa.

1) é mto perigoso falar de revoluções "democráticas". o problema não é a democracia ou a falta dela, o problema é outro! cada país tem seus próprios motivos para querer algum tipo de revolta.

2) não se deve acreditar em uma mídia (nem em alguns países) que "até semana passada" estavam agarrados com os líderes que agora são a nova escória do mundo.

3) especialmente no caso da líbia, grande exportadora de petróleo, a "revolta" tomou uma dimensão abertamente maniqueísta aonde existem "os bons" (rebeldes) e "os maus" (tropas do kadafi), que bombardeia os civis e faz churrasco de criancinha. Será mesmo? não é isso que os russos estão dizendo. Veja: http://tinyurl.com/4z9maun . E cadê os vídeos das manifestações líbias? estamos saturados dos registros da situação da tunisia, do egito, até do iemen! quanto à líbia, um vazio confuso.

creio que em alguns países (especialmente tunisia e egito, talvez até no iemen) as revoltas tenham sido verdadeiramente populares.

agora, há algo de podre na líbia. especialmente com aquele naviozão gringo paradinho bem ali na frente.

e quanto ao papel da internet, é importante, mas longe de ser crucial. me soa como mais desvio de atenção. dizem que lenin e stalin não saíam do facebook. as diretas já dependeram do twitter. e se não fosse o celular não haveria acontecido a revolução francesa...

é, não consegui ser breve.

Robert Snows disse...

Que bonito, um comentário que vai dar trabalho de responder :~ Valeu aí, seja lá quem for.

Assim... não vou dizer que eu fiz um estudo detalhadíssimo de caso por caso, mas pelo que eu vi, a grande questão comum entre todos esses países é o autoritarismo mesmo. Cada um é cada um, mas todos os países curiosamente ficam na mesma região e tem ou tinham o mesmo mandante por anos e anos. Alguns inclusive têm padrão de vida melhor que o Brasil, por exemplo. Crises pontuais podem causar coisas do gênero, mas não em 15 países ao mesmo tempo.

Concordo em gênero, número e degrau que há de se ter um pé atrás com o que se lê, inclusive chamei atenção pra troca de opinião que já tinha ocorrido a respeito do Kaddafi quando ele resolveu "andar na linha". Se fosse me estender, podia citar que os EUA mataram a filha dele, o que deve ter levado ele a "repensar" as suas convicções. Mas que todos regimes são/eram autoritários e tem/tinham mais de uma década de funcionamento, é fato.

Por fim, CREIO EU que não tem como medir o papel real da internet, mas que teve algum, aparentemente ninguém discorda. Aqui diz algo a respeito que eu não tô com saco de ler de novo:
http://tsavkko.blogspot.com/2011/02/o-jornalixo-da-veja-etica-e-manipulacao.html De qualquer maneira, as comparações não fazem muito sentido, visto que as revoluçãs francesa e russa usaram o meio de comunicação de massa que tinham à disposição na época, o jornal, e a campanha das diretas, well... deu errado.

É como eu disse ali no final, pode dar merda quando acabar, mas algumas boas intenções tão rolando sim.