segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

E Eu Que Não Queria

Arnaldo e Rafaela estavam na frente do palco, assistindo empolgados a melhor banda do festival, quando o guri teve a iluminação.

- Tô me mijando.
- É, acho que eu também quero ir no banheiro.
- Quando der uma música chata a gente vai.
- Tá bom.

A música que a banda tocava acabou e o vocalista se parou a discursar aqueles discursos de banda agradecendo pela oportunidade, pela paciência do público, etc. Arnaldo, cada vez mais aflito, resolveu exercer o pensamento positivo.

- Bem que ele podia dizer em que ponto tá o show.
- Como assim?
- Tipo, quanto falta pra acabar e tal.
- E porque diabos ele faria isso?
- Sei lá, quando tá no fim geralmente eles dizem "essa é a última, galera" ou coisa que o valha.

Não deu meio minuto e o vocalista anunciou que faltavam duas músicas. Aquele era o momento. Tudo bem que era a melhor banda, mas a penúltima música provavelmente ia ser só uma preparação pro final em grande estilo. A bexiga não podia esperar.

- Vamo agora, aí a gente volta pra ver a última.
- Mm... tá, então.

Rafaela saiu correndo na frente, seguida tão de perto quanto possível por Arnaldo. Desviaram das pessoas, das garrafas, contornaram a mesa de som, pularam os desníveis do chão de terra. Já tinham percorrido metade dos 100 metros que separavam o palco do banheiro quando o vocalista terminou o discurso e Rafaela teve a segunda iluminação da noite:

- Certo que, só porque a gente saiu, agora vai tocar uma...

E não precisou completar. O receio era mútuo e Murphy não falha. Começou a música mais animada do show. Os dois pararam e se olharam.

- Vamo esperar ma...
- Na próxima a gente...

E correram de volta.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Intro ou Postergada Iniciativa Iniciada.

As vezes algumas introduções são desnecessárias, outras indispensáveis. De modo que ao termos idéia de que/quem estamos lidando com certo aviso prévio, nos faz criar certa expectativa. Mas o quanto é saudável esperar? Não sei responder a isso. E espero nunca saber. Talvez conforme as pessoas pensam em como as outras possam nos enxergar por saber seu nome, com quem você anda e o que você faz, dispensam a necessidade de apresentação. Não sou uma excessão à regra conforme citei, e com essa aparentemente intrincada e defensiva introdução:

Eis que em um sábado como outro qualquer, abro a janela que saltou no meu MSN intitulada: "Robert Snows", me convidando para colaborar em um blog. Tudo o que perguntei: "é tema livre?". Tive uma resposta positiva, e me pus a pensar com o que eu poderia colaborar, já que tantas possibilidades geram indecisão (momento Karen Radünz).


Durante a mesma semana (ainda não postando) vi um post novo de Roberto, e ao observar a área administrativa do blog, me deparo com os dizeres José Antônio Magalhães. Ao ver o nome do Tom envolvido nesse projeto, percebi que talvez fosse ser algo sério de mais pra alguém como eu fazer parte... até que lembrei que era o nome do Tom.

Com nomes que considero irreverentes e de forte opinião fazendo-me tal convite, me senti honrado em fazer parte desse projeto afinado apesar da minha desafinação no que se refere a organização, prometi fazer o suficiente para tentar satisfazer as especativas em mim geradas. Assim coloco a minha nerdice à vossa disposição, contribuindo no que puder. Sem mais delongas, peço para que por favor nos acompanhem nessa sinfonia afinada em q.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Pequena história colateral dos novos tempos



Saindo do Rio de Janeiro, a primeira vinda foi cortesia da Amigo Produções. O clipe veio na mesma leva de sucessos como o Monstro DJ e Bicicleta Humana. Mas os Avassaladores e a sua Sou Foda claramente tinham algo a mais. Algo que transformaria a canção em um fenômeno da internet e em um sinal dos novos tempos para os direitos autorais.

A auto-confiança está estampada na cara do moleque que, sobre um fundo animado psicodélico, morde os beiços antes de citar de cabeça todas as pessoas que ele é melhor e todos os lugares onde ele esculacha a mulher amada. Enquanto isso os seus companheiros, mais pra trás, fazem uma dança aparentemente infazível pra quem não nasceu no RJ. Eu, pelo menos, não conheço ninguém que saiba.

Nesses tempos em que ninguém sabe mais diferenciar o que é consumo irônico e o que é consumo, não deu pra ficar indiferente. O vídeo e o pancadão que ele ilustra fizeram a peregrinação, por blogs e redes sociais, comum aos hits do Youtube. A cena do beiço ganhou até um gif próprio. Enquanto isso, os Avassaladores faziam uma versão "clean" de Sou Foda pra tocar no rádio ou na TV.













Mas o moralismo tem mais força nas mídias de velho tradicionais e os Avassaladores ainda não são o MC Serginho. A trajetória da "profana" versão original, vinda do mundo moralismo-free do funk carioca, tinha mesmo que passar pelo mundo moralismo-free da internet pra ganhar ainda outros mundos.

Outros dois moleques, Cacio e Marcos, adicionaram um violão, uma melodia e fizeram uma versão sertaneja, totalmente de brinks, como mostra o vídeo gravado no quarto (não no beco, nem no carro) com a participação "do forever alone", como eu li em algum lugar por aí.



Pois essa transfusão de bagaceiragem fez aparecer um submundo sertanejo moralismo-free. Ou isso ou no meio rural (supondo-se que é do sertão que saem as duplas sertanejas) "foda" deixou de ser palavrão (até porque, convenhamos...), porque a versão Cacio e Marcos foi apropriada e profissionalizada por pelo menos mais duas duplas.

E quem não podia ficar pra trás na arte da apropriação eram justamente os habitantes da internet: os nerds. Vejam a plaquinha que eu presenciei num evento otaku recente:






















Detalhe na Saori Kido aqui embaixo. A foto é obra desse cidadão aqui.

E a última encarnação de Sou Foda que bombou (que eu saiba), mashup com a abertura de Sakura Card Captors:



Mas ainda existem várias versões rolando por aí, e o Não Salvo fez uma compilação parcial: Overdose de Sou Foda. Tudo isso, até onde eu sei, só com a internet e, subversão máxima, sem participação do ECAD. Até que venha um representante do ECAD aqui dizer o contrário.

E deve acontecer, visto que os sertanejos com certeza tão ganhando dinheiro com isso. Menos os que começaram a brincadeira, que continuam tocando no quarto.

Por fim, o sucesso de Sou Foda deve ter sido parelho no mundo do funk, porque ela ganhou uma paródia dos medalhões Gorila & Preto.