quarta-feira, 2 de março de 2011

Grito Rock - Segundo dia


O ideal seria postar uma review do festival inteiro, mas, como eu só compareci no segundo dia (e saí antes das últimas bandas tocarem) e o pessoal que compareceu nos dois está contundido, aqui vai uma review parcial, com a minha visão também parcial dos fatos. A ver

Não sei se por emoção ou bebedeira, o Gordo (Alex Vaz, vocal e guitarra da Canastra Suja) resolveu se abraçar em mim e fazer um desabafo sobre tudo o que o festival Grito Rock significava para ele, a oportunidade dos músicos mostrarem o seu trabalho, pra que quem faz música com paixão possa fazer disso também o seu sustento. Me falou também do quanto ele e todo o mundo envolvido tinham suado para que aquilo tomasse forma. Sobre o evento, essa é a melhor definição que eu posso dar.

Eu estava de saída, para comer alguma coisa e voltar para casa, mas o Gordo insistiu pra que eu ouvisse pelo menos uma música da banda que ia começar, então fiquei mais um pouco. Seis horas antes, eu estava estacionando o carro no quadrado para ver qual é que era do tal Grito Rock, apesar de já ter perdido o primeiro dia do festival. Vou tentar passar aqui as minhas impressões:

A primeira banda cujo nome estava no cartaz foi a Plug 3 que, como bem lembrado pela Alice (famosa irmã do Porco) é autora do hit “Sou Yeda de Novo”, que arrecadou para a candidata tucana a intenção de voto de milhares de pessoas sem idade legal para votar. Começou a primeira música, que dizia algo como “essa canção vai tocar seu coração” e daí vocês podem imaginar que eles tocaram meu coração por um período que parecia que não ia terminar nunca.

Mas essa banda eu assisti por um erro de cálculo, posto que a minha intenção era chegar na hora do show dos Mascates, que eu já tinha visto uma vez, no João Gilberto, e que tinha gostado. Os caras são uma gurizada nova mostrando que nem toda essa geração está perdida. A banda faz uma mistura de influências boas: em um momento é puro Strokes, em outro é um instrumental de Arctic Monkeys com vocal de Los Hermanos, e no meio disso faz referências fortes de música popular brasileira.


A coisa mais comum é acusar bandas novas de serem cópias de Los Hermanos, afinal de contas, os barbudos inauguraram o rock moderno misturado com música popular no Brasil, e então qualquer banda que continua nessa linha é chamada de cópia. Eu acho isso um erro. O som dos Mascates é uma mistura do que os caras escutam, mas e quando é que não é? Como diz o vocal Pedro Laguna numa das músicas deles: “Não descarto a influência. Não disfarço quem eu sou”.

Mas em matéria de originalidade acho que quem mais chamou a atenção foi a banda seguinte: os Meigos, Vulgos e Malvados. Eles misturam influências e estilos de uma forma que fica difícil definir o que eles estão fazendo, e eu não digo isso num mau sentido. O discurso da vocalista, contra os padrões de beleza impostos pela sociedade, perdeu efetividade pelo fato dela própria ser uma gordinha, mas isso na verdade serve para mostrar que o que ela diz tem razão.

“Gabi vai tocar” - ouviu-se a frase conhecida no Quadrado, e logo estava no palco a Gru, banda da Gabi Lima, que tem um talento para fazer músicas extremamente pop que, ainda assim, não dão vontade de vomitar (o que é um grande mérito). Segundo alguém me disse, o guitarrista do power trio era vocal da Superguidis. Uma coisa que se destaca também são as pequenas falas da Gabi durante o show, cativantes. Acho que a convivência com a Fernanda Takai aumenta o nível de açúcar no sangue de uma pessoa.

Eis que chega o momento mais esperado do dia: uma das esparsas reuniões do grupo clássico do rock clássico pelotense, a Psico Say Canniggia. Sem dúvida foi a apresentação com maior público do dia. Surgiu gente não sei de onde para assistir. Os caras realmente são muito bons, e todo o mundo sabe.


Mas logo no início do show se viu que a Psico não estava no seu dia. O baterista da banda, que sempre deu show não só com o som, mas com toda uma performance corporal e facial que era ótima de ficar olhando, tinha se passado na bebida e não estava no seu melhor. A guitarra do Bocão desconectava e ele continuava tocando, sem perceber. Eu nem diria isso por mim mesmo, porque não sou bom em avaliar essas coisas, mas a opinião geral que ouvi foi que a Psico fez fiasco. Os caras, é claro, souberam levar tudo isso numa boa.

Numa noite dessas, sentado em algum meio-fio da zona do Porto, o Bocão brincou que andava tentando fazer um som moderno, escutando Radiohead, mas o pessoal ouvia e dizia que lembrava Led. O Grito Rock passou uma impressão de decaída do velho e ascensão do novo. Tá certo que os Strokes eram novidade há dez anos, e os Arctic Monkeys há cinco, mas se o pessoal da nova geração continuar aprendendo a transformar o que escuta em algo novo, acho que o nosso rock local pode ter um futuro massa.

7 comentários:

José Antonio Magalhães disse...

Pessoal, tentem comentar aqui ao invés de só no twitter/msn/facbook/afins, pra poder rolar uma comparação de opiniões! O que vocês acham?

Dornelles disse...

bom texto, resumiu legal o que eu tive de impressão também... pelo jeito não fui só eu quem foi embora depois da Psico!

José Antonio Magalhães disse...

O negócio esvaziou totalmente depois da Psico! Eu vi uma música da banda que veio depois (a pedido do Gordo) e parti. Já 'tava na hora do jantar

gabi disse...

o que aumenta o nivel de açucar no meu sangue acho que é o açucar no meu sangue

Robert Snows disse...

Sobre os Mascates, antes de mais nada é importante ressaltar que as músicas deles, que eu me lembre, são boas mesmo. Por outro lado, eles também são extremamente "derivativos" - eu, por acaso, achei mais Strokes que Los Hermanos, mas é essa a vibe. Seria algo assim como o Moptop, que eu também gostava. De qualquer forma, essa onda vai passar e talvez haja futuro se eles não a surfarem.

A MVM me parece que seria uma ótima banda se tivesse um produtor/operador de mesa de som. Me agrada o saladão.

E a Psico, bem... eu espero que eles tenham se divertido, porque eu me diverti um monte, mas não pelos motivos tradicionais! Maluco levantando da bateria pra tomar cerveja do lado do Thiago... heauiehaiueoaueoaiueaho

Tenho que discordar da avaliação final, porque, mesmo com os integrantes mais pra lá do que pra cá, a Psico ainda ganhou vários pedidos da platéia pra seguir. Sendo que uma das últimas músicas foi a total apelativa Under The Bridge. Ou seja, o público pelotense continua conservador. Tá bom, eu sei que eu gritei "mais um" pra Psico também, mas eu venho babando o ovo deles desde 2009, eu posso.

José Antonio Magalhães disse...

Robertinho,

Não te achei tão discordante de mim!

Sobre os mascates, eu disse que "em um momento é puro Strokes, em outro é um instrumental de Arctic Monkeys com vocal de Los Hermanos" e que "Strokes eram novidade há dez anos, e os Arctic Monkeys há cinco"

Acho que "essa onda vai passar e talvez haja futuro se eles não a surfarem" não é tão diferente de "se continuar aprendendo a transformar o que escuta em algo novo, acho que pode ter um futuro massa"

Sobre a MVM, eu jurava que o carinha de boné que cuidava do sampler era alguma coisa tipo isso que tu disseste. Alguém me comentou que ele era um DJ produtor fodão, tipo um Danger Mouse da vida no Gnarls Barkley

José Antonio Magalhães disse...

Sobre a Psico Say Canniggia, eu queria fazer alguns esclarecimentos pra que o meu post não seja mal entendido:

1. Eu não quis dar a entender que o show da Psico foi um fracasso com o público. Concordo que apesar dos problemas o pessoal curtiu e, como eu disse no post, foi o show com mais audiência do negócio

Só o que eu quis dizer foi que, a despeito das grandes expectativas, a Psico acabou, por uma série de zebras, não sendo tudo o que se esperava e, ao meu ver, acabou impressionando menos do que outras bandas

2. Eu estava conversando com o Thiago (baixista da Psico, que não fez cagada e por isso não apareceu) e ele estava dizendo que eu podia ter ressaltado também o lado bom, falado das músicas novas, ao invés de só dos problemas.

Queria só dizer que a minha intenção era deixar claro no post que "os caras realmente são muito bons, e todo o mundo sabe", fora que elogiei bastante o Robledo e tudo. Só que os problemas também chamaram a atenção

Na hora que estava escrevendo, eu pensei sobre a questão das músicas novas, e gostaria de ter falado algo sobre elas, mas acontece que eu não tinha conhecimento suficiente das músicas pra fazer qualquer comentário a respeito

Vocês vejam bem que eu não fui no show pensando em fazer um post sobre ele, e não estava analisando as coisas de uma maneira assim profissional. Na verdade eu estava zanzando de um lado pro outro e batendo papo