terça-feira, 15 de março de 2011

Reforma Nominal Partidária

Nas últimas semanas começou um burburinho a respeito do equivalente brasileiro do Chinese Democracy, a reforma política. Uma comissão na Câmara dos Deputados e outra no Senado discutem propostas de mudanças que coloquem um pouco de ordem na democracia brasileira. E a comissão da câmara já começou bem, com a desistência da representante da gloriosa Famiglia Roriz, filmada em atos moralmente reprováveis.

Existem algumas propostas saudáveis como o financiamento público de campanha, que reduziria a troca de favores entre políticos em campanha e empresas com interesse em licitações futuras, e o voto em lista, que evidencia o partido, ou seja, as idéias que o candidato defende, e evita a imbecilidade do eleitor que vota em um nome sem saber o que ele vai fazer lá.

Mas tem um detalhe no qual ninguém pensou e que, se fosse reformado, ajudaria bastante o eleitor a saber o que o seu candidato pensa da vida: os nomes dos partidos. Os partidos mais importantes foram fundados há décadas e os nomes continuam os mesmos, remetendo a idéias que os membros nem lembram mais do que tratam.

As únicas excessões são os herdeiros da Arena, que praticam sucessivas plásticas em si mesmos pra ver se passam despercebidos. Os true-arenistas hoje em dia se reunem no PP, Partido Progressista. Já os que pularam fora do barco da ditadura no último segundo hoje se denominam, pra mostrar que política também pode ser feita com bom humor, Democratas.

O PP passou os últimos oito anos na base de apoio do governo Lula, o que envolveu grandes concessões de ambos os lados - especialmente, de cargos e dinheiro. Mas nós sabemos que, no fundo, eles gostariam de poder ser em público o que sempre foram. Portanto, o melhor a se fazer seria juntar os dois partidos em um novo, chamado PDB - Partido da Direita Brasileira. Isso resolveria ainda outro problema político nacional, a vergonha de se declarar de direita, expressa até pelo legítimo representante deste campo nas últimas eleições.

Do outro lado, o PMDB evoca no nome o Movimento Democrático Brasileiro, partido que fazia oposição à ditadura. À ditadura. Que acabou em 1985. Não é a toa que a grande referência ética do partido se recusa a aceitar a troca de nome até hoje e exibe uma ética meio estranha. Para adequar o partido aos novos tempos seria melhor para o eleitor que ele se chamasse PC - Partido dos Cargos, refletindo sua vocação governista - seja em que governo for. Aliás, analisando o nome "Movimento Democrático Brasileiro", ele até que é bem condizente com o PMDB atual, cujos "ideais" se movimentam de acordo com a democracia brasileira.

Mas mantendo a idéia do novo PC, fico em dúvida se ele não deveria se fundir com PTB e PDT. Enquanto o segundo foi fundado na redemocratização por Leonel Brizola pra "dar continuação" ao PTB de Getúlio Vargas, o primeiro foi fundado com o intuito de sacanear o Brizola, que teve que usar outra sigla. Enquanto o segundo não chegou a respirar perto do trabalhismo, o primeiro foi se inclinando pra direita aos poucos e hoje em dia tem entre suas estrelas Paulinho da Força, condenado por improbidade administrativa.

Para o mesmo caminho vai o PSB. Se por um lado é verdade que algum dos seus membros ainda deve saber o que é o socialismo defendido pelo partido, por outro o partido entrou de cabeça no troca-troca e tem ou já teve grandes líderes socialistas como Paulo Skaf, Ciro Gomes e Anthony Garotinho. Se estancasse o processo agora, o partido poderia trocar de nome para Partido de Esquerda Moderada, ou algo que o valha.

Já o PCdoB, por sua recém descoberta vocação para o esporte, poderia se chamar Partido Bandeirantes. Quer dizer, caso alguém ainda lembre de quando a Band era o saudoso Canal do Esporte. Se bem que, pelo que foi visto nos Jogos Pan-Americanos do Rio, o talento do partido pro lucro é maior. PESPN talvez teria um bom apelo com a juventude, outra área que o PCdoB domina como ninguém.

O PV é um dos casos mais curiosos, já que o partido tem um premissa bastante específica, a preservação do meio ambiente, mas os seus amigos não têm exatamente o mesmo ponto de vista. Caso a reforma eliminasse a doação privada para campanhas e os seus filiados fizessem uma força, o partido até poderia continuar com o mesmo nome. Caso contrário, poderia se fundir ao futuro PC com os outros partidos cuja ideologia ninguém sabe.

Sobre PSOL, PSTU e PCB, cabe uma pergunta: precisa três partidos? Tem mais diferença entre o PSOL e o PCB do que entre duas correntes do PSOL? De qualquer forma, o Partido Socialismo e Liberdade ganha um prêmio por coerência, já que os seus candidatos têm liberdade até de sabotar as campanhas uns dos outros. Minha sugestão é unir os três no PEB - Partido da Esquerda Brasileira, rival natural do PDB.

O caso do PPS é meio constragedor. "Partido Popular Socialista" soa como aqueles partidos únicos da União Soviética. Mas em pouco mais de 10 anos, o que era um desmembramento do PCB conseguiu se transformar em um sub-PSDB. Duvido que algum político tentando desenvolver um argumento coerente consiga dizer o nome completo desse partido sem rir. Caso tenha alguma necessidade de continuar existindo em separado, poderia se chamar Partido Popular Neoliberal, ou Impopular Neoliberal, sei lá.

Porque o neoliberal popular, todo mundo sabe, é mesmo o PSDB. Fundado em 88, não precisou nem 10 anos pra galera esquecer que o SD no meio vinha de Social Democracia. Por motivos óbvios, o nome que expressaria coerência para o eleitorado devia ser PNB - Partido do Neoliberalismo Brasileiro.

Por último, o que fazer com o partido que manda no país há 8 anos? O Partido dos Trabalhadores aguentou firme por mais ou menos (dependendo do ponto de vista) 20 anos fazendo jus ao nome. Aí o Lula encheu o saco de perder eleição e decidiu que patrão também era trabalhador, então o PT devia agradar a eles também. Mas claro, não dá pra agradar todo mundo o tempo todo e não precisa fazer muita força pra imaginar qual dos dois grupos geralmente leva a melhor. Nessa reforma nominal o PT viraria PTP - Partidos dos Trabalhadores e Patrões. Ou carregando na sinceridade, PPOQSPT, Partido dos Patrões e O Que Sobrar Pros Trabalhadores.

Ainda tem o PR, o PMN e mais uns 10 partidos pra renomear. Mas desses menores, alguns tem a ideologia mais definida, outros ninguém se importa, então eles podem ficar do jeito que tão. Nesse novo cenário de sinceridade partidária, eles finalmente vão ter a chance de mostrar a que vieram. E nos grandes, os filiados vão poder viver tranquilos sabendo que optaram por aquilo que diz na fachada do comitê ou no santinho, e que o eleitor entende o que eles pretendem fazer. Quer dizer, se é que a idéia era essa.




UPDATE: a piada sobre o MDB foi adicionada posteriormente pelo Titanic (o Nic Hck ali do lado).

3 comentários:

José Antonio Magalhães disse...

Achei bueno o texto, no melhor estilo Robertinho que conhecemos

Como a minha visão política é, além de superficial, acho que bastante diferente da tua, acho que não vale a pena entrar a fundo nesse mérito

A minha principal questão nessa coisa de orientações partidárias sempre acaba sendo "tá, mas o PSDB não é mais de esquerda do que de direita mesmo, dentro de um espectro liberal, por serem assistencialistas? Ou seja, não estão mais perto dos Democratas americanos do que dos Republicanos, ou em outras palavras, não são a mesma coisa que o PT nesse sentido capitalista assistencialista?"

Unknown disse...

PQP que baita texto...Captasse e cristalizasse um dos maiores motivos de desinteresse da população brasileira pela política, que é a falta de uma sigla que represente seu ideal, e o que é pior esse ciclo acaba gerando pessoas sem ideais, deixando o caminho livre para essa pilantragem que nos governa...Mas volto a frisar não concordo com a comparação jocosa entre a reforma política e o belíssimo Chinese Democracy...rsrsrs!!

Unknown disse...

Manda esse texto para os jornais tem tudo para ser publicado, ainda mais agora com a criação do partido do Kassab.