sábado, 25 de fevereiro de 2012

Quem procura acha aqui

Outro dia o meu amigo Thiago Salvador reclamava a respeito das bandas novas que um site qualquer tentou empurrar como sendo as novas ondas do momento. Eu, inimigo costumeiro das novas ondas do momento, palpitei que as coisas legais geralmente não são as empurradas por qualquer trendsetter, e o cidadão que quer ouvir novidades boas tem que escavar em algum outro lugar. O que me lembrou de algumas das desencavadas que eu dei, de músicas e bandas que passaram reto (quando passaram) pelo mainstream e eu guardei. Resolvi compartilhar os "métodos" que me levaram a algumas dessas pérolas, além das próprias. Ficou meio autobiográfico demais, e a parte da busca propriamente começa depois da Fiona Apple. Mas enfim...

Minha carreira de adorador de bandas aleatórias começou, veja você, na MTV. Lá no meio dos anos 90, programas como Fúria Metal, Lado B, Top 10 EUA e tudo que o Massari metia a mão davam uma boa base de aleatoriedades pro vivente televisivo que queria aproveitar os últimos suspiros do rock alternativo. Eu já tinha ouvido no rádio, mas foi na falecida Music Television que eu tomei conhecimento de Soundgarden, Red Hot Chili Peppers e Faith No More, as primeiras coisas que eu virei fã.

Mas o programa que eu posso dizer que "moldou o meu caráter" foi o Gás Total, que no período que eu me lembro passava todos os dias de tarde, voltado ao rock noventista e adjacentes. Essas são algumas alegrias que eu devo a Gastão Moreira e seus herdeiros, de bandas que saíram do nada e chegaram a lugar nenhum - porque só acertaram nessas mesmo. E depois que pararam de passar os clipes eu tive que esperar uns anos até bombar o mp3 e eu achá-las, pra conseguir ouvir de novo.











Entre esse período e o começo do reinado do mp3, existia o aluguel de CDs. O que eu decidia alugar ainda era, na maioria, pescado da MTV, mas dava pra testar e gostar de discos aleatórios inteiros. Graças à CD Loco (minha locadora habitual) eu descobri que a Fiona Apple tinha músicas bem melhores que Criminal.



Ainda no mundo dos CDs, uma estratégia que deu certo pelo menos uma vez (e deu em uma devolução na loja, outra vez) foi ouvir um CD só porque a capa era legal. Um cidadão tatuando a bandeira americana na língua não é exatamente o tipo de mensagem que eu acho legal, mas o desenho era bonito. E o stoner do Loudmouth era novidade pra mim ainda.



Na virada dos 90 pros 00 foi que o "modelo antigo" começou a morrer pra mim. Minha internet já tinha uma velocidade aceitável e a MTV já tava tomada de merda, então tudo que eu tinha que fazer era descobrir onde estavam os arquivos mais divertidos. Pra isso a galera contou por anos com o Napster e seus filhos, netos e bisnetos, nos quais era comum procurar uma música e achar outras 20 com nome parecido. Pra quem era curioso e desocupado, era um prato cheio. Eu não lembro de outra música a respeito do Super Homem que eu curtia, mas num desses searches da vida eu descobri o Our Lady Peace:



Outro que veio do search foi o Pretty Girls Make Graves, que, embora tenha uma vocal tri melódico, me ganhou literalmente no grito.



E graças à desocupação eu adentrei o mundo gótico. Procurando por "lilith", nick ou parte-do-nick de 5 entre 10 meninas da época, achei o Faith & Disease. Like Lilith era legalzinha, mas as que eu baixei depois bombaram mais. Cheguei a ser respondido por email pelo dono da banda, mas ele não me explicou como eu fazia pra receber o CD. Baita troxa.



Aquele era um tempo de uma internet mais inocente, em que uma galera achava engraçadíssimo zoar os arquivos - por exemplo, colocando nome de uma banda em uma música de outra. Disfarçados de System Of A Down (até porque a faixa tem participação do vocalista Serj Tankian), eu descobri uma das minhas bandas preferidas da última década, o Dog Fashion Disco. E percebam que a cagada se mantém.



No mesmo período, auge do new metal, o clássico This Town circulou por aí com 15 nomes de bandas diferentes. Não tenho nem ideia de como, mas anos depois eu descobri que era mesmo o Jonathan Davis cantando, com o Human Waste Project. Lá por 2009 fui tomar conhecimento da banda.



Aí um dia eu baixei um episódio do Beavis & Butt-Head, também não lembro por que. Devia ser um do Cornholio. No intervalo, eu discordei da avaliação deles sobre o que passava na TV, uma das poucas vezes que isso aconteceu. Vinha a ser do clip do The Grays, que realmente é mei bundamole, mas tem um riffzinho pra lá de bem bolado.



Ano passado eu assisti (atrasado, eu sei) Quase Famosos e, como tudo que eu acabo, fui ler a respeito do filme depois. Descobri que a tal Penny Lane era baseada numa pessoa real, e que essa pessoa, na época do filme, era empresária de banda. E que ela empresariava o Storm Inc., banda da Storm Large, que depois eu descobri que era semi-famosa por aparecer no Rockstar Supernova. E por fim, descobri que a srta. Lane devia ser uma péssima empresária, porque a banda é tri boa.



Atualmente a minha banda preferida é o Judy And Mary. Como eu tava ocupado esses anos todos procurando bizarrices na internet, levou mais de uma década pra dar a eles a atenção merecida. Foi nos idos de 2000 que um cara me mandou no IRC a música de abertura de algum desenho japonês que eu não assistia. Acostumado com músicas pesadas, tristes ou neutras, e desacostumado com vocalistas japonesas, minha primeira reação foi perguntar pro cara que porra era aquela. Mas mesmo assim guardei o arquivo por meses suficientes pra ouvir de novo, gostar e baixar mais algumas. E baixar a discografia inteira, uma década depois.



Provavelmente a maior parte do que eu relatei não vale mais hoje em dia. As conexões são muito melhores, as formas padrão de guardar e distribuir arquivos são diferentes e importar coisas pela internet é praxe. E como a indústria não vai se render sem lutar, o que num dia é tranquilo, como baixar coisas do Megaupload, no outro dia não existe mais.

Também não tem nenhuma banda nova aí, mas com certeza, adaptando o espírito Ducktales para as ferramentas de hoje em dia, "em algum lugar tem que ter", como já dizia um mestre. Isso tudo sem contar o punk e o metal, que são mundos à parte. Mas fica aí o meu testemunho de como os fãs de música curiosos e desocupados se viravam na virada do terceiro milênio.

3 comentários:

Anônimo disse...

saudoso soulseek. onde eu entrava pra baixar uma banda e tinha acesso a todos os arquivos do peer, o que me fazia acabar baixando varias outras!!

J. A. Magalhães disse...

realmente, o que era pra ser um post de dicas sobre como encontrar bandas legais (uma alternativa às listas de sites hipster) acabou saindo um post histórico-autobiográfico sobre como se encontraram bandas legais antes do advento do cenário atual. daí o grande mérito do post - e achei mesmo um post altamente meritório - foi me apresentar um bom punhado de bandas bem interessantes que eu nunca tinha escutado. acredito fortemente que se tivesses me apresentado algumas delas há uns dez anos atrás eu teria ficado muito impressionado. outra coisa: o post me deixou refletindo sobre como os anos noventa (como década antes da anterior) estão atualmente no ápice da breguisse, junto com o New Metal do início dos 2000, à medida que os anos 80 vão se reabilitando, isto é, passando de ser bregas para consumo irônico e daí para serem realmente legais. enfim, dá vontade de já começar a pensar em como reabilitar a estética noventista e tirar do meio do brega algo pra se reciclar em breve, na forma de caminhos estéticos que saiam do que já está ficando aborrecido na hipsterzisse baixa-bola do momento atual.

alice disse...

grande CD Loco, o fato dela ter falido corresponde à boa parte da minha coleção de CDs!
foi a loucura a galera comprando aquele monte de CDs hahaha
e concordo com o método que o Titanic citou acima, ainda uso o mesmo para descobrir coisas aleatórias até a presente data.
não fui eu que te mandei Judy & Mary? lembro que eu já curtia lá por 2000, quando eu ainda era otaku pra caralho.. assim como BôA, the pillows e outras coisas esquisitas de anime.
até hoje sei cantar um pedaço de sobakasu de cabeça, embora não tenha ouvido mais essa banda.
enfim, legal ter outros maníacos obsessivos por música, sei que sou uma também (meu perfil do lastfm com quilos de bandas não nega), por mais que a gente não ouça as mesmas coisas.
só pra fechar esse comentário aleatório, ocean colour scene é a coisa mais tri que tu me apresentou!
e outro dia revirando o meu HD encontrei algo com nome de "hey tchê", cuja origem não tenho dúvidas que seja tu também, mas dessa eu já não tenho coisas tão bacanas a dizer.. hahaha

vou aproveitar pra contribuir também... outros métodos que eu uso hoje pra descobrir música, com a facilidade da internet, são (além do slsk), as recomendações do lastfm, alguns blogs legais, trocar músicas com amigos (os famosos cds regraváveis que giram pela galera, ou mesmo por email mesmo, já que hoje no gmail cabe até um boi).. quando viajo gosto de ir a shows locais e autorais, e se possível comprar cd da banda, ou mesmo visito lojas de cd e pergunto pro vendedor o que tem de legal sendo feito naquele lugar, que valha a pena conhecer. quando conheço algum viajante, peço também pra ele me fazer uma lista de bandas da terra dele. uma dica quente é esse site aqui, que recebe feeds de vários blogs sobre música, e dá pra configurar pra tu receber só coisas que te interessam: http://hypem.com/
ah, e tem os podcasts do itunes também, um que eu tenho curtido muito é esse aqui: http://www.stonesthrow.com/podcast/ , eles lançam vários artistas novos, ou nem tão novos mas desconhecidinhos, e rolam umas coisas bem finas.
que eu lembre agora era isso!
estou disponível pra trocar sons, se alguém se interessar.